sábado, 30 de outubro de 2010

Chatear alguém sempre entala a garganta e deixa um gosto amargo na boca.

sábado, 23 de outubro de 2010

Constatação

Quando se perde os referenciais, se perde tudo.

Prazer

Adoro a sensação de um dever cumprido.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Saudade

Ainda me lembro de como gostava de ir pra escola a pé e ia cantarolando o caminho todo, cochichando no seu ouvido coisas do meu coração. Gostava tanto de conversar com você sobre o meu futuro.. agora nosso. Aquela paz.. aquela certeza de que estava tudo bem e que só ia melhorar. Como sua presença me fazia bem, me enchia de alegria e as circunstâncias já não me pertubavam mais. Como era gostoso passar horas com você, ouvindo sua voz, recebendo seus carinhos, bebendo do seu amor em doses cavalares. Receita médica. Seu sorriso me fazia gargalhar e era tudo tão seguro perto de você. Eu vivia no seu mundo. Como era bom!

Senti saudades. Tô voltando, Papai. =D

Decisão

Não troco a minha paz e consciência limpa por nada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Chuva

Adoro esses fins de tarde chuvosos. Primeiro o cenário. Nuvens escuras fecham o céu. Tudo prata. Ventos fortes varrem as ruas. Não mais poeira, não mais pessoas. O cheiro de terra molhada chega antes mesmo da primeira gota. E a ansiedade começa bater. 'Quando será que ela chega?'

Águas repetidas no telhado.
Barulho. Calmante. Nostálgico.
Trovões e relâmpagos. Vozes. Lembranças. Suspiros.
Milhares de sons, ruídos intensos, portas batem, 
árvores pedem socorro, os bichos procuram abrigo.
Todos se afastam.. mas minha alma permanece lá. Parece gostar.

Pingos de chuva. Marcam. Molham. Lavam.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sonho meu

Será que não vê?
Eu te visito todas as manhãs quando acordo.
Será que não sente?
Eu te beijo antes mesmo de você abrir os olhos.
Será que não ouve?
Eu preparo o seu café da manhã enquanto canto do meu amor por você.
Será que não tem fome?
Eu te convido a assentar e te sirvo meu amor.
Será que não percebe?
Oro pelo seu dia e me despeço já com saudades.
Passo o dia pensando como te agradar quando você chegar.
Arrumo a casa como você gosta e tudo está pronto quando você chega.
Inalo o cheiro que você deixou nos cômodos, como se ele me trouxesse você de volta.
Enquanto é dia controlo a minha ansiedade em querer te ver de novo.
E quando a noite chega, com ela o sorriso no rosto e a espera à porta, pois sei que está na hora.
É, que bom que você está de volta.

sábado, 2 de outubro de 2010

Visita Oculta - Capítulo II


Ela não consegue desviar o seu olhar. É como se seus olhos não enxergassem outra coisa. Aquela luz... era no mínimo atraente e tomava a sua mente e coração. Perplexa, admira o quanto pode, como se pelos seus olhos ela pudesse sorver aquela luz para o seu interior e tornar-se um pouco mais digna, bonita.

O cenário ainda era o mesmo. Casa suja e sem móveis. Mas a atmosfera já não era mais igual. A luz que ele trouxera agora enchia o ambiente e, inevitavelmente, evidenciava a calamidade daquele lugar. Em pé, ele olha para cada canto da casa, do alto da parede até os rodapés, examina cada centímetro, retorna o seu olhar para ela e se assenta no chão, recostando-se na parede central da sala de estar. Ela resolve fazer o mesmo e aproveita a claridade pra conferir o local onde passara tanto tempo como cega, vivendo na completa escuridão. Seus olhos mal podem acreditar no que vêem: roupas espalhadas pelo chão; um vaso de flores murchas no canto da escada; cacos de vidro saindo da cozinha; restos de comida e papéis embolados por todo o lugar. Um caos.

"Como eu tive coragem de chamá-lo pra um lugar como esse? Que vergonha.." - pensou a moça no mais íntimo do seu coração.
- "Não pense nisso. - disse ele - Não precisa ficar com vergonha. Não é a primeira vez que venho aqui.."
- "Não? Mas foi a primeira vez que eu te convidei. Como entrou se só eu tenho a chave?" - perguntou ela com um ar de desconfiança.
- "Nah, vou te explicar tudo, você vai entender." - disse ele com uma voz tranquila como se tivesse todo o tempo do mundo. "Eu estive aqui quando meus olhos encontraram os seus assim que te vi no portão. Essa não é só a sua casa, ela é o seu coração. E você está certa, eu só vim porque você me convidou. Mas tem uma coisa que acredito que você ainda não saiba."
- "O que, Jesus?" - ela pergunta olhando bem nos seus olhos penetrantes.
- "Eu conheço a sua casa antes, muito antes de você vir morar nela. Eu a construi." - ele revela com uma serenidade quase tangível e invejável.
- "Você a construiu? Como assim?" - indaga perplexa.
- "Eu e o meu pai, nós sonhamos com essa casa e sonhamos com você dentro dela. A construimos exatamente como concordamos ser o melhor pra você. Se você olhar bem, ela contém as suas características: é um sobrado, como você gosta; é toda branca com algumas paredes coloridas e, é claro, uma delas é verde, sua cor favorita; tem uma escada na sala central que dá acesso aos quartos no andar de cima e vários outros toques que sabíamos que você ia gostar."
- "É.. eu sempre gostei dela, Jesus. Mas nunca imaginei que alguém tivesse planejado ela pra mim, e apesar de não ter pagado nada por ela, sempre me orgulhei de ter uma casa tão bonita."
- "Pagar? - diz ele sorrindo - Você não precisou pagar, nós a demos a você, foi o nosso presente no dia em que você nasceu."

A moça demora alguns minutos pra refletir sobre todas essas novidades e, voltando os seus olhos mais uma vez sobre o que está ao seu redor, conclui:
- "Quer dizer, então, que você e o seu pai me deram essa casa... - pausa - ...e depois? Vocês foram pra onde? Porque me deixaram aqui sozinha? Olha aí no que deu, olha o que essa casa virou!" - desabafa a moça como que desatando um nó da garganta. Afinal de contas, alguém deve ser o culpado por tamanho sofrimento e solidão vividos até ali.

Jesus se cala. Ele sabia que essa hora iria chegar. Sabiamente permite que ela continue os seus questionamentos.

- "Por que não ficou aqui pra me ajudar? Você devia ter me ensinado como tomar conta dessa casa imensa. Que móveis comprar, onde conseguir energia para as lâmpadas, como manter ela limpa, essas coisas.. Eu passei tanto tempo aqui perdida. Primeiro eu achei que era mérito meu ter uma casa tão bonita. Ela é grande, dois andares, tem vários cômodos, uma varanda.. eu mereço ter uma casa assim. Mas mesmo depois de tanto esforço, eu não consegui cuidar dela. Os móveis que eu comprei eram de péssima qualidade, foram se desfazendo aos poucos. Uns foram corroídos por cupins, outros se estragaram com o uso.. não sobrou mais nada. Só a sujeira e o pó..." - diz, terminando a frase com uma lágrima pendurada na ponta dos olhos e o semblante fechado de indignação.

A visita percebendo sua angústia e entendendo que era hora de responder, volta o seu corpo completamente para ela, levanta o seu rosto com a ponta dos dedos e diz:
- "Nós te demos essa casa, desse dia em diante ela era sua e, como você mesma disse, só você tem a chave. Eu só posso entrar nela como seu convidado."

Ao ouvir essas palavras a moça se emociona com tamanha generosidade, ao mesmo tempo que se cora de vergonha. Ninguém nunca tinha sido tão gentil com ela em toda a sua vida. Dando-lhe alguma coisa sem pedir nada em troca. Ela estava chocada. E, pensando bem, era a primeira vez que ela o convidara para ir lá. E ali ele estava. Num ousado ímpeto, ela o abraçou forte e permaneceu alguns segundos ali contra o seu peito até escorregar dos seus lábios como um sussuro: "Por quê?"

Jesus, passando a mão em seus cabelos, diz: "Ah, Tainá.. se você soubesse o quanto eu amo você.."